domingo, 24 de outubro de 2010

uma capa e uma contracapa, então

João Cancela

Não analiso estas capa e contracapa totalmente às cegas quanto ao recheio que elas embrulham, porque li o livro e até o recomendo. Ainda assim, não estava ciente da sua existência (ou da do seu autor) até o ter topado numa livraria. E desencadeou-se um processo que me fez querer segurá-lo durante mais do que os tais sete segundos.


Esta capa consegue prender a atenção – pelo menos a minha. É totalmente preenchida por uma ilustração em tons que variam predominantemente entre o amarelo baço e o castanho; notas de verde e vermelho evitam que se torne monótona. Um único plano de imagem: um homem de feições ocidentais agarrando um índio que, aparentemente, deve ser poderoso - alguém o transporta em ombros e está pejado de ornamentos, incluindo uma pele de leopardo. O momento capturado tem uma certa carga dramática.

Estando os dois terços superiores consagrados a esta imagem, tanto o título como o autor não têm grande destaque. Primeiro, e em maiúsculas, temos o título Armas, Germes e Aço, seguido do subtítulo, Os destinos das sociedades humanas. A combinação destes dois elementos resulta um pouco estranha. O primeiro é uma enumeração de palavras pouco reconfortantes – um pouco ao jeito de “sangue, suor e lágrimas”, ou “feios, porcos e maus”. O subtítulo é um pouco pretensioso e soa a nome de livro publicado pelas Edições 70 sobre os cristais da Atlântida. O nome do autor, Jared Diamond, está escrito a minúsculas e em laranja. As discretas referências no canto inferior direito à editora (Relógio d’Água) e à colecção (Antropos) completam esta capa.


Com um fundo laranja, cor que também preenche a lombada, a contracapa é composta por um pormenor de uma imagem - provavelmente retirada da mesma pintura da capa – e por cinco blocos de texto. A editora prescinde de apresentar a obra por si própria, recorrendo a opiniões de outros. Três críticos norte-americanos (Washington Times, New Yorker e New York Review of Books) louvam o livro que temos nas nossas mãos: “a dimensão e o poder explicativo deste livro são espantosos”, “engenhoso, informativo e cativante”. Abaixo das dos críticos, as frases de um professor da Universidade de Stanford, também elas elogiosas, fornecem uma síntese – a única – da obra: “esta é uma viagem brilhante, apaixonada, arrebatadora por 13000 anos de história de todos os continentes – uma breve história sobre tudo e sobre todos. As origens dos impérios, da religião, da escrita, das colheitas, das armas estão todas aqui”. Finalmente, uma biografia em trinta palavras do autor, enfatizando a sua carreira académica.

A acção combinada dos vários aspectos que tentei descrever acima provocou-me uma mistura de renitência com curiosidade. O desempate entre estas duas deu-se através do recurso ao índice e ao prefácio do autor. Ganhou a curiosidade, acabei por comprar o livro.

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