terça-feira, 26 de outubro de 2010

Uma aposta ousada e inteligente


Esta edição feita pela Quetzal é um dos casos peculiares que tenho cá por casa. Peculiar, porquê? Perguntam vocês... Essencialmente pela capa elaborada. 
Antes de observarmos a contracapa e lermos o que nela figura, o que salta de imediato à vista é o título e a ilustração de alguns pormenores de As tentações de Santo Antão, pintadas por Hieronymus Bosch, que se encontram no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
Ao olharmos para uma capa com este grafismo, somos imediatamente levados a pensar que estamos perante um livro que retrate ou fale sobre algum tema relacionado com estas ilustrações; mais não seja, passadas na época a que pertencem tais imagens. No entanto, não há qualquer ligação directa a elas, porque na contracapa dá-se uma ideia da história que contém o livro e vemos que ela é passada no século XX, na cidade de Lisboa. 
Só percebemos a ligação estranha da capa com a história, quando nos deparamos com termos como «alucinação» e «sonho», utilizados para explicarem a natureza desta narrativa.
A contracapa tem ainda outro pormenor curioso, que não tem nada a ver com o autor ou a história do livro. Trata-se da explicação e origem do nome da editora, Quetzal, dizendo que esta é uma «ave trepadora da América do Sul, que morre quando privada de liberdade.» É um pormenor interessante, porque abre uma possibilidade infinita de interpretações para quem repare nele.

Este é, portanto, na minha humilde opinião, um exemplo bastante bom de capa e contracapa, que não se deixa cair no óbvio e no banal, conduzindo o leitor numa procura de significado para a estranheza imediata que elas podem causar. Não só obriga o leitor a não julgar o conteúdo do livro pela capa - coisa que é deveras frequente - como também a resistir ao impulso de o pôr de lado pelo carácter pouco atractivo que ela lhe pode suscitar.

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