terça-feira, 29 de março de 2011

A Pléiade e a Imortalidade

A sus 81 años, Milan Kundera conoce un honor reservado a unos pocos. El escritor checo nacionalizado francés ha entrado en la prestigiosa colección de la Biblioteca de la Pléiade de la editorial francesa Gallimard. Considerada como uno de los olimpos de la literatura mundial, la editorial, que este año cumple su centenario, ha reservado a Kundera una distinción aún mayor. (...)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Um pequeno teste de leitura na sequência da aula anterior (23/3)

"Pelo andar da carruagem vê-se logo quem lá vai dentro" (Provérbio popular supostamente criado no tempo de D. João V)

Autor 1:
Por que razão não voltaste a telefonar e me deixas assim, suspensa, à tua espera? Nem para o emprego
(conheces o número do emprego)
nem para casa, sabes que estou sozinha, não recebo ninguém, uma amiga de tempos a tempos que não impede que ligues, quando muito saio uma hora ou duas ao sábado para visitar a minha mãe, nunca vou ao cinema, nunca janto fora, como qualquer coisa por aqui, leio uma revista
(nem leio uma revista, folheio, vejo as fotografias e é tudo, ou antes nem vejo as fotografias, fico a pensar em ti)
poiso a revista, abro a televisão, fecho a televisão, vou à janela espreitar a rua, penso que é o teu carro a estacionar lá em baixo e nunca é o teu carro a estacionar lá em baixo, nunca és tu a fechar a porta com o comando eléctrico e as luzes do automóvel a acenderem-se e a apagarem-se, nunca são os teus dois toques de campainha, nunca é o teu aceno no capacho nem o embrulhinho de biscoitos de que não gosto e me forço a comer e a fazer dieta no dia seguinte dado que os biscoitos engordam, nunca é a tua mão no meu ombro
- A minha menina
o teu perfume, a tua maneira de acomodar o rabo no sofá, a tua aliança que apesar de normal me parece sempre enorme e me dói, não tenho coragem de te confessar que me dói mas dói, conforme me doem as tuas mentiras
- Há anos que não há nada entre nós (...)

Autor 2:
Contudo, no caso do homem que queria um barco, as coisas não se passaram bem assim. Quando a mulher da limpeza lhe perguntou pela nesga da porta, Que é que tu queres, o homem, em lugar de pedir, como era o costume de todos, um título, uma condecoração, ou simplesmente dinheiro, respondeu, Quero falar ao rei, Já sabes que o rei não pode vir, está na porta dos obséquios, respondeu a mulher, Pois então vai lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no limiar, tapando-se com a manta por causa do frio. Entrar e sair, só por cima dele. Ora, isto era um enorme problema, se tivermos em consideração que, de acordo com a pragmática das portas, ali só se podia atender um suplicante de cada vez, donde resultava que, enquanto houvesse alguém à espera de resposta, nenhuma outra pessoa se poderia aproximar a fim de expor as suas necessidades ou as suas ambições. À primeira vista, quem ficava a ganhar com este artigo do regulamento era o rei, dado que, sendo menos numerosa a gente que o vinha incomodar com lamúrias, mais tempo ele passava a ter, e mais descanso, para receber, contemplar e guardar os obséquios. À segunda vista, porém, o rei perdia, e muito, porque os protestos públicos, ao notar-se que a resposta estava a tardar mais do que o justo, faziam aumentar gravemente o descontentamento social, o que, por seu turno, ia ter imediatas e negativas consequências no afluxo de obséquios. No caso que estamos narrando, o resultado da ponderação entre os benefícios e os prejuízos foi ter ido o rei, ao cabo de três dias, e em real pessoa, à porta das petições, para saber o que queria o intrometido que se havia negado a encaminhar o requerimento pelas competentes vias burocráticas. Abre a porta, disse o rei à mulher da limpeza, e ela perguntou, Toda, ou só um bocadinho. O rei duvidou por um instante, na verdade não gostava muito de se expor aos ares da rua (...)

Autor 3:
É esta a mais grandiosa história dos homens, a de tudo o que estremece, sonha, espera e tenta, sob a carapaça da sua consciência, sob a pele, sob os nervos, sob os dias felizes e monótonos, os desejos concretos, a banalidade que escorre das suas vidas, os seus crimes e as suas redenções, as suas vítimas e os seus algozes, a concordância dos seus sentidos com a sua moral. Tudo o que vivemos nos faz inimigos, estranhos, incapazes de fraternidade. Mas o que fica irrealizado, sombrio, vencido, dentro da alma mais mesquinha e apagada, é o bastante para irmanar esta semente humana cujos triunfos mais maravilhosos jamais se igualam com o que, em nós mesmos, ficará para sempre renúncia, desespero e vaga vibração. O mais veemente dos vencedores e o mendigo que se apoia num raio de sol para viver um dia mais, equivalem-se, não como valores de aptidões ou de razão, não talvez como sentido metafísico ou direito abstracto, mas pelo que em si é a atormentada continuidade do homem, o que, sem impulso, fica sob o coração, quase esperança sem nome.
Eis Quina, exemplo de energias humanas que entre si se devoraram e se deram vida. Vaidade e magnífico conteúdo espiritual foram os seus pólos; equilibrando-se entre eles, percorreu um extremo e outro da terra, venceu e foi vencida, sem que, porém, as suas aspirações mais inquietantes deixassem de ser, no seu íntimo, as mesmas formas incompletas, chave da transfiguração que os homens eternamente tentam moldar e se legam de mão em mão, como um segredo e como uma dúvida.(...)

Autor 4:
Somos cinco numa cama. Para a cabeceira, eu, a rapariga, o bebé de dias; para os pés, o miúdo e a miúda mais pequena. Toco com o pé numa rosca de carne meiga e macia: é a pernita da Lina, que dorme à minha frente. Apago a luz, cansado de ler parvoíces que só em português é possível ler, e viro-me para o lado esquerdo: é um hálito levemente soprado, pedindo beijos no escuro que me embala até adormecer. Voltamo-nos, remexemos, tomados pelo medo de estarmos vivos, pela alegria dos sonhos, quem sabe!, e encontramos, chocamos carne, carne que não é nossa, que é um exagero, um a-mais do nosso corpo mas aqui, tão perto e tão quente, é como se fosse nossa carne também: agarrada (palpitante, latejando) pelos nossos dedos; calada (dormindo, confiante) encostada ao nosso suor. (...)
Somos gente pura: os mais novos não sabem o que é a promiscuidade, a minha rapariga se vir a palavra escrita deve achá-la muito comprida e custosa de soletrar: pro-mis-cu-i-da-de (pelo método João de Deus, em tipos normandos e cinzentos às risquinhas, até faz mal à vista!). A promiscuidade: eu gosto. Porque me cheira a calor humano, me sobe em gosto de carne à boca, rne penetra e tranquiliza, me lembra - e por que não ?! - coisas muito importantes (para mim, libertino se o permitem) como mamas, barrigas, pele, virilhas, axilas, umbigos como conchas, orelhas e seu tenro trincar, suor, óleos do corpo, trepidações de bicharada. E a confusão dos corpos, quando se devoram presos pelos sexos e as bocas. E as mãos, que agarram e as pernas, que enlaçam. Máquinas que nós somos, máquinas quase perfeitas a bem dizer maravilhosas, inda que frágeis, como não admirar as nossas peças, molas e válvulas e veias, todas elas animadas por um sopro que lhes parece alheio mas sai do seu próprio movimento, do arfar, dos uivos do animal, do desespero do anjo caído. E a par disso que é o trivial, que é o que cada um, tosco ou aleijado tem para dar e trocar, fatalidades, na sua mísera ou portentosa condição de bicho, a beleza, que é a surpresa, a harmonia das formas, que é a excepção e a inteligência, que é a reminiscência dos deuses. Ao lado do bicho, natural e informe, a estátua - onde a carne se afeiçoou em linhas puras, sabe-se lá porquê, por quem e para que fim (sim, o fim sabemos e é o que irmana todos na caveira desdentada horrível a rir-se muito da beleza e dos olhos que a gozavam, da estátua viva e das mãos que a percorriam demoradamente, enlevadas). (...)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Eurovision 1977 - Os Amigos - Portugal no coração



Comentário: 1977 - em parte o produto que os Homens da Luta agora homenageiam/parodiam com carinho, troça, ironia, duplos sentidos dentro de duplos sentidos. Podemos talvez comparar os dois vídeos.

segunda-feira, 21 de março de 2011

quarta-feira, 16 de março de 2011

Proposta de exercício de edição

Escolham um livro. Tentem descrevê-lo objectivamente: paginação, tipo de letra, linhas caídas, correcção do português, capa, badanas, qualidade do papel, preço, tiragem, etc.
1) O que está bem?
2) O que poderia ser corrigido?

A versão da Ana Carina e da Andreia

Tradução do Poema “Stupid”, de Raymond Carver
Estúpido/Estupidez
“O que os jovens hoje em dia chamam de erva.
À deriva, como nuvens que se escapam dos seus lábios.
Que ninguém apareça esta noite, ou telefone a pedir ajuda.
Porque ajuda é o que ele menos pode oferecer esta noite.
Uma tempestade ruge lá fora. Mares revoltos e ventos tempestuosos do oeste.
A mesa onde ele se senta é de noventa de comprimento, por quarenta e cinco de largura.
Na escuridão do quarto, reina a reflexão.
Talvez ele escreva um livro de aventuras. Ou uma história para crianças. Ou uma peça
para duas personagens femininas, uma das quais é cega.
O degolador deverá entrar no rio.
O que ele fará será aprender a lançar o seu próprio isco.
Poderia enviar um pouco mais de dinheiro a cada um dos seus parentes ainda vivos.
Àqueles que já esperam algo mais no correio no início de cada mês.
Sempre que lhe escrevem, dizem que se está a acabar.
Ele conta as cabeças pelos dedos e apercebe-se de que ainda estão vivos.
E se ele preferir ser recordado nos sonhos dos desconhecidos?
Ele levanta os olhos para a clarabóia, onde a chuva martela.
Depois de um momento – quem sabe quanto? - os olhos rogam para se fechar. E ele fecha-os.
Mas a chuva continua a martelar. Será um temporal?
Deverá ele fazer alguma coisa? Proteger, de alguma forma, a casa?
O Tio Bo esteve casado com a tia Ruby durante 47 anos. Depois, enforcou-se.
Abriu os olhos outra vez. Nada faz sentido. Tudo faz sentido.
Quando passará a tempestade?”

A versão da Mariana e da Isabel

Estúpido
É o que os putos hoje chamam de erva E isso espalha
dos seus lábios como nuvens. Ele espera que ninguém
venha à noite, ou lhe ligue pedindo ajuda.
Ajuda, é o que ele tem mais em falta, esta noite.
Uma tempestade rebenta lá fora. Mares agitados
com ventos fortes vindos de oeste. A mesa onde ele
se senta tem, dizem, dois cúbitos de comprimento e um de largura.
A escuridão do quarto abunda a introspecção.
Pode ser que ele escreva um romance de aventuras. Ou
uma história para crianças. Uma peça para duas personagens femininas,
uma delas cega. O assassino deve aparecer de dentro
do rio. Uma das coisas que ele irá aprender
é a amarrar os próprios cadarços. Talvez ele deva mandar
mais dinheiro a cada um dos membros
sobreviventes da sua família. Aqueles que já esperam algo
no correio, no primeiro no correio de cada mês.
Cada vez que eles lhe escrevem, dizem-lhe
que estão apertados. Ele conta pelos dedos
e percebe que estão todos a sobreviver. Qual é o mal
se ele preferir ser lembrado nos sonhos de estranhos?
Ele ergue seus olhos para as clarabóia onde a chuva
martela. Passado algum tempo ―
quem sabe quanto? ― os seus olhos pedem
para serem fechados. E ele fecha-os.
Mas a chuva continua a martelar. Será isto um temporal?
Deveria ele fazer algo? Assegurar a casa
de alguma forma? O tio Bo ficou casado com a tia Ruby durante 47 anos. Então enforcou-se.
Ele abre os olhos outra vez. Nada a acrescentar.
Tudo se acumula. Quanto tempo vai durar esta tempestade?

A versão da Sara e da Diana

Estupidez

Era aquilo a que os miúdos chamavam erva. Flutua
como nuvens dos seus lábios. Ele espera que ninguém
venha esta noite ou telefone a pedir ajuda.
Ajudar é o menos que pode fazer esta noite.
Uma tempestade agita-se no exterior. Mares revoltos
com ventos tumultuosos vindos do oeste. A mesa à sua frente
tem, digamos, dois côvados em comprimento e um em largura.
A escuridão no quarto fervilha com ideias.
Talvez escreva um livro de aventuras. Ou
uma história infantil. Uma peça para duas personagens femininas
uma das quais é cega. O Assassino deveria vir
no rio. Uma coisa que aprenderá
é a preparar o seu próprio isco. Talvez deva dar
mais dinheiro a cada um dos familiares
que sobrevivem. Aqueles que já esperam alguma coisa
no correio, no primeiro dia de cada mês.
Sempre que escrevem dizem-lhe
Precisam de mais.
Ele conta-os pelos dedos
E vê que todos eles sobrevivem. Que interessa
se ele prefere ser lembrado nos sonhos de estranhos?
Ergue os olhos para a clarabóia onde a chuva
continua a bater. Após um momento…
quem sabe quão longo?… os seus olhos pedem
para ser fechados. E ele fecha-os.
Mas a chuva continua a bater. Será isto uma temporal?
Deveria fazer alguma coisa? Proteger a casa
de alguma forma? O Tio Bo manteve-se casado com a Tia Ruby por 47 anos. Depois enforcou-se.
Ele abre os olhos novamente. Nada faz sentido.
Tudo faz sentido. Durante quanto tempo continuará a tempestade?

A versão da Sara e da Diana

Estupidez

Era aquilo a que os miúdos chamavam erva. Flutua
como nuvens dos seus lábios. Ele espera que ninguém
venha esta noite ou telefone a pedir ajuda.
Ajudar é o menos que pode fazer esta noite.
Uma tempestade agita-se no exterior. Mares revoltos
com ventos tumultuosos vindos do oeste. A mesa à sua frente
tem, digamos, dois côvados em comprimento e um em largura.
A escuridão no quarto fervilha com ideias.
Talvez escreva um livro de aventuras. Ou
uma história infantil. Uma peça para duas personagens femininas
uma das quais é cega. O Assassino deveria vir
no rio. Uma coisa que aprenderá
é a preparar o seu próprio isco. Talvez deva dar
mais dinheiro a cada um dos familiares
que sobrevivem. Aqueles que já esperam alguma coisa
no correio, no primeiro dia de cada mês.
Sempre que escrevem dizem-lhe
Precisam de mais.
Ele conta-os pelos dedos
E vê que todos eles sobrevivem. Que interessa
se ele prefere ser lembrado nos sonhos de estranhos?
Ergue os olhos para a clarabóia onde a chuva
continua a bater. Após um momento…
quem sabe quão longo?… os seus olhos pedem
para ser fechados. E ele fecha-os.
Mas a chuva continua a bater. Será isto uma temporal?
Deveria fazer alguma coisa? Proteger a casa
de alguma forma? O Tio Bo manteve-se casado com a Tia Ruby por 47 anos. Depois enforcou-se.
Ele abre os olhos novamente. Nada faz sentido.
Tudo faz sentido. Durante quanto tempo continuará a tempestade?

quarta-feira, 9 de março de 2011

Novas andanças do marketing dos que não têm marketing

Livros Cotovia convida

Livros Cotovia
Uma tarde com a colecção Judaica

Livros da nova colecção a preços muito especiais

Trechos de livros de Paul Celan, Iosif Brodskii, Adrienne Rich e Moacyr Scliar lidos por Andresa Soares, Diogo Dória e Cláudio da Silva

Livros manuseados, novos e esgotados, edições antigas e raras, de ficção, poesia, teatro, entre outros

Pratos e petiscos da cozinha judaica servidos pelo Bica-me

Sábado 12 de Março 2011
12h-18h

Clube Ferroviário
Rua de Santa Apolónia nº59, Lisboa

Visite-nos. Afinal, escolhemos excelentes livros para si há mais de 20 anos.

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