quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Novas sobre o livro

O parto está para breve. Como queremos que a criança nasça inteira e perfeita, com todos os dedinhos dos pés, estamos a fazer as últimas provas.
A questão da capa já está quase resolvida (um ajuste aqui, outro acolá, talvez) e a paginação completa. Sejamos pacientes. Só temos de esperar mais uns dias pelos resultados.
E o que há mais para dizer?
Enfim, é tão bom trabalhar em Agosto...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Entrevistas - o livro

Caros/as,
tínhamos um guião, uma estratégia, um plano - e um meio de comunicação, este blogue. Utilizamo-lo? Dão-me conta da evolução (estou segura que fermosa e segura) do vosso projecto?
Hum? Sinto-me um bocado à nora... Não é sensação que me desagrade, estou habituado. Mas vocês não estão.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Debate sobre livros (organizado por ex-alunos do curso)


13 DE JULHO (próxima 4a feira)
21h30
Bartô do Chapitô, em Lisboa


“No metro, nos correios, junto da banca das couves no supermercado, ele é ver livros brotar dos recantos mais insuspeitos e, estranheza maior, leitores que chegam ao balcão dos correios empunhando contas de electricidade e sérios tomos de auto-ajuda.
Restam poucas dúvidas de que pisámos, aqui, uma linha limítrofe. Mas limítrofe de quê? Que princípios culturais são estes que regem a compra e venda de livros?
As vendas tomaram de assalto a indústria do livro e o leitor foi elevado à condição de consumidor. A quantos de nós, leitores, nos perguntaram editores, livreiros ou autores, o que gostaríamos de ler? Será que nos revemos verdadeiramente nos escaparates atolados de novidades ou que as nossas escolhas estão, hoje, mais condicionadas que nunca pela abundância de oferta e ausência de aconselhamento? Onde está o meu livreiro? Quem é o meu editor? Por que comprei este livro?”


Convidados: Ricardo Ribeiro, Joaquim Gonçalves, Pedro Vieira, Luís Guerra
Moderação: Rosa Azevedo

domingo, 19 de junho de 2011

Aula extra

esta quarta-feira 23 há aula às 18h, para interessados. A O.T. sugerida é a seguinte:

1) discussão dos trabalhos já entregues
2) manual de edição (coisas que tratámos, que não tratámos)
3) preparação para o estágio
4) questões vossas

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Aula de 25/5

Na aula de ontem fizemos um exercício de caça à gralha rara - muito chato, porque já se destilou o texto várias vezes e, em princípio, já não há nada a corrigir. Engano! O leitor-consumidor descobre logo, em 15 segundos, aquilo que nos levou dias e semanas a ver e a rever. E esse é que é o "drama humano".
Em princípio há meadas óbvias: acentos, pontuação, itálicos, linhas caídas, hífens... Mas há sempre uma repetição que, embora gritante, tinha passado. E isso porquê? Porque os nossos olhos e a nossa mente "corrigem" o texto.

Como exemplo demos o exercício dos 9 pontos (aqui não consigo reproduzir bem, mas todos sabem que estão equidistantes).

. . .
. . .
. . .

E a regra a cumprir é: "passar por estes 9 pontos com 4 segmentos de recta sem levantar a caneta."

Passados alguns minutos, vemos dois tipos de "erros". Um grave, que é não tomar nota, não registar o erro, fazer só a operação mentalmente; o outro menos grave, que é ver um quadrado (seguir uma regra criada por nós e pela nossa percepção visual) onde só há 9 pontos.

A solução é simples (depois de a sabermos, bem entendido): sair do quadrado, porque... não há quadrado!

a) traçar uma linha horizontal até sair "fora" (uma medida para lá do 3º ponto)
b) na direcção inversa uma diagonal que apanha os pontos 6 e 8 e fica por baixo do 7
c) traçar uma vertical ascendente até ao ponto 1
d) uma diagonal descendente do 1 ao 9 passando pelo "do meio"

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Maria do Rosário Pedreira - Lição e "Masterclass"

No âmbito das
100 lições do programa comemorativo do Centenário da Universidade de Lisboa, a editora Maria do Rosário Pedreira, responsável no Grupo Leya da procura de Novos Autores, vai dar UMA LIÇÃO no dia 5, próxima quinta, às 18h, na Sala de Conferências da Reitoria da Universidade de Lisboa.

domingo, 3 de abril de 2011

Entrevista a um Editor Omanita

Boa noite,

Embora ainda não me tenha sido confirmada a possibilidade de entrevistar um editor Omanita, gosto de manter a crença positiva. Terei todo o interesse na vossa cooperação para que tire o melhor proveito desta oportunidade. Deste modo, aqui fica o meu e-mail para o qual podem enviar sugestões. Infelizmente não posso ser selectivo e, caso consiga a entrevista, não sei qual o editor, o que restringe as ideias nesta fase.

elai_st@hotmail.com

Armando Alves

terça-feira, 29 de março de 2011

A Pléiade e a Imortalidade

A sus 81 años, Milan Kundera conoce un honor reservado a unos pocos. El escritor checo nacionalizado francés ha entrado en la prestigiosa colección de la Biblioteca de la Pléiade de la editorial francesa Gallimard. Considerada como uno de los olimpos de la literatura mundial, la editorial, que este año cumple su centenario, ha reservado a Kundera una distinción aún mayor. (...)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Um pequeno teste de leitura na sequência da aula anterior (23/3)

"Pelo andar da carruagem vê-se logo quem lá vai dentro" (Provérbio popular supostamente criado no tempo de D. João V)

Autor 1:
Por que razão não voltaste a telefonar e me deixas assim, suspensa, à tua espera? Nem para o emprego
(conheces o número do emprego)
nem para casa, sabes que estou sozinha, não recebo ninguém, uma amiga de tempos a tempos que não impede que ligues, quando muito saio uma hora ou duas ao sábado para visitar a minha mãe, nunca vou ao cinema, nunca janto fora, como qualquer coisa por aqui, leio uma revista
(nem leio uma revista, folheio, vejo as fotografias e é tudo, ou antes nem vejo as fotografias, fico a pensar em ti)
poiso a revista, abro a televisão, fecho a televisão, vou à janela espreitar a rua, penso que é o teu carro a estacionar lá em baixo e nunca é o teu carro a estacionar lá em baixo, nunca és tu a fechar a porta com o comando eléctrico e as luzes do automóvel a acenderem-se e a apagarem-se, nunca são os teus dois toques de campainha, nunca é o teu aceno no capacho nem o embrulhinho de biscoitos de que não gosto e me forço a comer e a fazer dieta no dia seguinte dado que os biscoitos engordam, nunca é a tua mão no meu ombro
- A minha menina
o teu perfume, a tua maneira de acomodar o rabo no sofá, a tua aliança que apesar de normal me parece sempre enorme e me dói, não tenho coragem de te confessar que me dói mas dói, conforme me doem as tuas mentiras
- Há anos que não há nada entre nós (...)

Autor 2:
Contudo, no caso do homem que queria um barco, as coisas não se passaram bem assim. Quando a mulher da limpeza lhe perguntou pela nesga da porta, Que é que tu queres, o homem, em lugar de pedir, como era o costume de todos, um título, uma condecoração, ou simplesmente dinheiro, respondeu, Quero falar ao rei, Já sabes que o rei não pode vir, está na porta dos obséquios, respondeu a mulher, Pois então vai lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no limiar, tapando-se com a manta por causa do frio. Entrar e sair, só por cima dele. Ora, isto era um enorme problema, se tivermos em consideração que, de acordo com a pragmática das portas, ali só se podia atender um suplicante de cada vez, donde resultava que, enquanto houvesse alguém à espera de resposta, nenhuma outra pessoa se poderia aproximar a fim de expor as suas necessidades ou as suas ambições. À primeira vista, quem ficava a ganhar com este artigo do regulamento era o rei, dado que, sendo menos numerosa a gente que o vinha incomodar com lamúrias, mais tempo ele passava a ter, e mais descanso, para receber, contemplar e guardar os obséquios. À segunda vista, porém, o rei perdia, e muito, porque os protestos públicos, ao notar-se que a resposta estava a tardar mais do que o justo, faziam aumentar gravemente o descontentamento social, o que, por seu turno, ia ter imediatas e negativas consequências no afluxo de obséquios. No caso que estamos narrando, o resultado da ponderação entre os benefícios e os prejuízos foi ter ido o rei, ao cabo de três dias, e em real pessoa, à porta das petições, para saber o que queria o intrometido que se havia negado a encaminhar o requerimento pelas competentes vias burocráticas. Abre a porta, disse o rei à mulher da limpeza, e ela perguntou, Toda, ou só um bocadinho. O rei duvidou por um instante, na verdade não gostava muito de se expor aos ares da rua (...)

Autor 3:
É esta a mais grandiosa história dos homens, a de tudo o que estremece, sonha, espera e tenta, sob a carapaça da sua consciência, sob a pele, sob os nervos, sob os dias felizes e monótonos, os desejos concretos, a banalidade que escorre das suas vidas, os seus crimes e as suas redenções, as suas vítimas e os seus algozes, a concordância dos seus sentidos com a sua moral. Tudo o que vivemos nos faz inimigos, estranhos, incapazes de fraternidade. Mas o que fica irrealizado, sombrio, vencido, dentro da alma mais mesquinha e apagada, é o bastante para irmanar esta semente humana cujos triunfos mais maravilhosos jamais se igualam com o que, em nós mesmos, ficará para sempre renúncia, desespero e vaga vibração. O mais veemente dos vencedores e o mendigo que se apoia num raio de sol para viver um dia mais, equivalem-se, não como valores de aptidões ou de razão, não talvez como sentido metafísico ou direito abstracto, mas pelo que em si é a atormentada continuidade do homem, o que, sem impulso, fica sob o coração, quase esperança sem nome.
Eis Quina, exemplo de energias humanas que entre si se devoraram e se deram vida. Vaidade e magnífico conteúdo espiritual foram os seus pólos; equilibrando-se entre eles, percorreu um extremo e outro da terra, venceu e foi vencida, sem que, porém, as suas aspirações mais inquietantes deixassem de ser, no seu íntimo, as mesmas formas incompletas, chave da transfiguração que os homens eternamente tentam moldar e se legam de mão em mão, como um segredo e como uma dúvida.(...)

Autor 4:
Somos cinco numa cama. Para a cabeceira, eu, a rapariga, o bebé de dias; para os pés, o miúdo e a miúda mais pequena. Toco com o pé numa rosca de carne meiga e macia: é a pernita da Lina, que dorme à minha frente. Apago a luz, cansado de ler parvoíces que só em português é possível ler, e viro-me para o lado esquerdo: é um hálito levemente soprado, pedindo beijos no escuro que me embala até adormecer. Voltamo-nos, remexemos, tomados pelo medo de estarmos vivos, pela alegria dos sonhos, quem sabe!, e encontramos, chocamos carne, carne que não é nossa, que é um exagero, um a-mais do nosso corpo mas aqui, tão perto e tão quente, é como se fosse nossa carne também: agarrada (palpitante, latejando) pelos nossos dedos; calada (dormindo, confiante) encostada ao nosso suor. (...)
Somos gente pura: os mais novos não sabem o que é a promiscuidade, a minha rapariga se vir a palavra escrita deve achá-la muito comprida e custosa de soletrar: pro-mis-cu-i-da-de (pelo método João de Deus, em tipos normandos e cinzentos às risquinhas, até faz mal à vista!). A promiscuidade: eu gosto. Porque me cheira a calor humano, me sobe em gosto de carne à boca, rne penetra e tranquiliza, me lembra - e por que não ?! - coisas muito importantes (para mim, libertino se o permitem) como mamas, barrigas, pele, virilhas, axilas, umbigos como conchas, orelhas e seu tenro trincar, suor, óleos do corpo, trepidações de bicharada. E a confusão dos corpos, quando se devoram presos pelos sexos e as bocas. E as mãos, que agarram e as pernas, que enlaçam. Máquinas que nós somos, máquinas quase perfeitas a bem dizer maravilhosas, inda que frágeis, como não admirar as nossas peças, molas e válvulas e veias, todas elas animadas por um sopro que lhes parece alheio mas sai do seu próprio movimento, do arfar, dos uivos do animal, do desespero do anjo caído. E a par disso que é o trivial, que é o que cada um, tosco ou aleijado tem para dar e trocar, fatalidades, na sua mísera ou portentosa condição de bicho, a beleza, que é a surpresa, a harmonia das formas, que é a excepção e a inteligência, que é a reminiscência dos deuses. Ao lado do bicho, natural e informe, a estátua - onde a carne se afeiçoou em linhas puras, sabe-se lá porquê, por quem e para que fim (sim, o fim sabemos e é o que irmana todos na caveira desdentada horrível a rir-se muito da beleza e dos olhos que a gozavam, da estátua viva e das mãos que a percorriam demoradamente, enlevadas). (...)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Eurovision 1977 - Os Amigos - Portugal no coração



Comentário: 1977 - em parte o produto que os Homens da Luta agora homenageiam/parodiam com carinho, troça, ironia, duplos sentidos dentro de duplos sentidos. Podemos talvez comparar os dois vídeos.

segunda-feira, 21 de março de 2011

quarta-feira, 16 de março de 2011

Proposta de exercício de edição

Escolham um livro. Tentem descrevê-lo objectivamente: paginação, tipo de letra, linhas caídas, correcção do português, capa, badanas, qualidade do papel, preço, tiragem, etc.
1) O que está bem?
2) O que poderia ser corrigido?

A versão da Ana Carina e da Andreia

Tradução do Poema “Stupid”, de Raymond Carver
Estúpido/Estupidez
“O que os jovens hoje em dia chamam de erva.
À deriva, como nuvens que se escapam dos seus lábios.
Que ninguém apareça esta noite, ou telefone a pedir ajuda.
Porque ajuda é o que ele menos pode oferecer esta noite.
Uma tempestade ruge lá fora. Mares revoltos e ventos tempestuosos do oeste.
A mesa onde ele se senta é de noventa de comprimento, por quarenta e cinco de largura.
Na escuridão do quarto, reina a reflexão.
Talvez ele escreva um livro de aventuras. Ou uma história para crianças. Ou uma peça
para duas personagens femininas, uma das quais é cega.
O degolador deverá entrar no rio.
O que ele fará será aprender a lançar o seu próprio isco.
Poderia enviar um pouco mais de dinheiro a cada um dos seus parentes ainda vivos.
Àqueles que já esperam algo mais no correio no início de cada mês.
Sempre que lhe escrevem, dizem que se está a acabar.
Ele conta as cabeças pelos dedos e apercebe-se de que ainda estão vivos.
E se ele preferir ser recordado nos sonhos dos desconhecidos?
Ele levanta os olhos para a clarabóia, onde a chuva martela.
Depois de um momento – quem sabe quanto? - os olhos rogam para se fechar. E ele fecha-os.
Mas a chuva continua a martelar. Será um temporal?
Deverá ele fazer alguma coisa? Proteger, de alguma forma, a casa?
O Tio Bo esteve casado com a tia Ruby durante 47 anos. Depois, enforcou-se.
Abriu os olhos outra vez. Nada faz sentido. Tudo faz sentido.
Quando passará a tempestade?”

A versão da Mariana e da Isabel

Estúpido
É o que os putos hoje chamam de erva E isso espalha
dos seus lábios como nuvens. Ele espera que ninguém
venha à noite, ou lhe ligue pedindo ajuda.
Ajuda, é o que ele tem mais em falta, esta noite.
Uma tempestade rebenta lá fora. Mares agitados
com ventos fortes vindos de oeste. A mesa onde ele
se senta tem, dizem, dois cúbitos de comprimento e um de largura.
A escuridão do quarto abunda a introspecção.
Pode ser que ele escreva um romance de aventuras. Ou
uma história para crianças. Uma peça para duas personagens femininas,
uma delas cega. O assassino deve aparecer de dentro
do rio. Uma das coisas que ele irá aprender
é a amarrar os próprios cadarços. Talvez ele deva mandar
mais dinheiro a cada um dos membros
sobreviventes da sua família. Aqueles que já esperam algo
no correio, no primeiro no correio de cada mês.
Cada vez que eles lhe escrevem, dizem-lhe
que estão apertados. Ele conta pelos dedos
e percebe que estão todos a sobreviver. Qual é o mal
se ele preferir ser lembrado nos sonhos de estranhos?
Ele ergue seus olhos para as clarabóia onde a chuva
martela. Passado algum tempo ―
quem sabe quanto? ― os seus olhos pedem
para serem fechados. E ele fecha-os.
Mas a chuva continua a martelar. Será isto um temporal?
Deveria ele fazer algo? Assegurar a casa
de alguma forma? O tio Bo ficou casado com a tia Ruby durante 47 anos. Então enforcou-se.
Ele abre os olhos outra vez. Nada a acrescentar.
Tudo se acumula. Quanto tempo vai durar esta tempestade?

A versão da Sara e da Diana

Estupidez

Era aquilo a que os miúdos chamavam erva. Flutua
como nuvens dos seus lábios. Ele espera que ninguém
venha esta noite ou telefone a pedir ajuda.
Ajudar é o menos que pode fazer esta noite.
Uma tempestade agita-se no exterior. Mares revoltos
com ventos tumultuosos vindos do oeste. A mesa à sua frente
tem, digamos, dois côvados em comprimento e um em largura.
A escuridão no quarto fervilha com ideias.
Talvez escreva um livro de aventuras. Ou
uma história infantil. Uma peça para duas personagens femininas
uma das quais é cega. O Assassino deveria vir
no rio. Uma coisa que aprenderá
é a preparar o seu próprio isco. Talvez deva dar
mais dinheiro a cada um dos familiares
que sobrevivem. Aqueles que já esperam alguma coisa
no correio, no primeiro dia de cada mês.
Sempre que escrevem dizem-lhe
Precisam de mais.
Ele conta-os pelos dedos
E vê que todos eles sobrevivem. Que interessa
se ele prefere ser lembrado nos sonhos de estranhos?
Ergue os olhos para a clarabóia onde a chuva
continua a bater. Após um momento…
quem sabe quão longo?… os seus olhos pedem
para ser fechados. E ele fecha-os.
Mas a chuva continua a bater. Será isto uma temporal?
Deveria fazer alguma coisa? Proteger a casa
de alguma forma? O Tio Bo manteve-se casado com a Tia Ruby por 47 anos. Depois enforcou-se.
Ele abre os olhos novamente. Nada faz sentido.
Tudo faz sentido. Durante quanto tempo continuará a tempestade?

A versão da Sara e da Diana

Estupidez

Era aquilo a que os miúdos chamavam erva. Flutua
como nuvens dos seus lábios. Ele espera que ninguém
venha esta noite ou telefone a pedir ajuda.
Ajudar é o menos que pode fazer esta noite.
Uma tempestade agita-se no exterior. Mares revoltos
com ventos tumultuosos vindos do oeste. A mesa à sua frente
tem, digamos, dois côvados em comprimento e um em largura.
A escuridão no quarto fervilha com ideias.
Talvez escreva um livro de aventuras. Ou
uma história infantil. Uma peça para duas personagens femininas
uma das quais é cega. O Assassino deveria vir
no rio. Uma coisa que aprenderá
é a preparar o seu próprio isco. Talvez deva dar
mais dinheiro a cada um dos familiares
que sobrevivem. Aqueles que já esperam alguma coisa
no correio, no primeiro dia de cada mês.
Sempre que escrevem dizem-lhe
Precisam de mais.
Ele conta-os pelos dedos
E vê que todos eles sobrevivem. Que interessa
se ele prefere ser lembrado nos sonhos de estranhos?
Ergue os olhos para a clarabóia onde a chuva
continua a bater. Após um momento…
quem sabe quão longo?… os seus olhos pedem
para ser fechados. E ele fecha-os.
Mas a chuva continua a bater. Será isto uma temporal?
Deveria fazer alguma coisa? Proteger a casa
de alguma forma? O Tio Bo manteve-se casado com a Tia Ruby por 47 anos. Depois enforcou-se.
Ele abre os olhos novamente. Nada faz sentido.
Tudo faz sentido. Durante quanto tempo continuará a tempestade?

quarta-feira, 9 de março de 2011

Novas andanças do marketing dos que não têm marketing

Livros Cotovia convida

Livros Cotovia
Uma tarde com a colecção Judaica

Livros da nova colecção a preços muito especiais

Trechos de livros de Paul Celan, Iosif Brodskii, Adrienne Rich e Moacyr Scliar lidos por Andresa Soares, Diogo Dória e Cláudio da Silva

Livros manuseados, novos e esgotados, edições antigas e raras, de ficção, poesia, teatro, entre outros

Pratos e petiscos da cozinha judaica servidos pelo Bica-me

Sábado 12 de Março 2011
12h-18h

Clube Ferroviário
Rua de Santa Apolónia nº59, Lisboa

Visite-nos. Afinal, escolhemos excelentes livros para si há mais de 20 anos.

Clique aqui para remover o seu email

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Proposta de exercício de tradução (a entregar até 20/2)

Stupid

It's what the kids nowadays call weed. And it drifts
like clouds from his lips. He hopes no one
comes along tonight, or calls to ask for help.
Help is what he's most short on tonight.
A storm thrashes outside. Heavy seas
with gale winds from the west. The table he sits at
is, say, two cubits long and one wide.
The darkness in the room teems with insight.
Could be he'll write an adventure novel. Or else
a children's story. A play for two female characters,
one of whom is blind. Cutthroat should be coming
into the river. One thing he'll do is learn
to tie his own flies. Maybe he should give
more money to each of his surviving
family members. The ones who already expect a little
something in the mail first of each month.
Every time they write they tell him
they're coming up short. He counts heads on his fingers
and finds they're all survivng. So what
if he'd rather be remembered in the dreams of strangers?
He raises his eyes to the skylights where rain
hammers on. After a while --
who knows how long? -- his eyes ask
that they be closed. And he closes them.
But the rain keeps hammering. Is this a cloudburst?
Should he do something? Secure the house
in some way? Uncle Bo stayed married to Aunt Ruby for 47 years. Then hanged himself.
He opens his eyes again. Nothing adds up.
It all adds up. How long will this storm go on?



Raymond Carver

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

É Portugal ninguém leva a mal - Opinião - DN

É Portugal ninguém leva a mal - Opinião - DN

Passei o dia a assistir (rádios, televisões...) à velha definição dos tolos: aponta-se a Lua e eles olham o dedo. O dia foi dedicado aos primeiros 70 portugueses que se preparavam para abandonar o Egipto. Abriram--se os noticiários com acentos épicos: que eles partiriam hoje às 10.30 locais - e estas são 08.30 de Lisboa, disse-se com exactidão, talvez para eu saber a que horas teria de começar a roer as unhas... Olhem, no Egipto há 30 mil turistas britânicos e em nenhum jornal inglês vi catapultado o seu repatriamento para primeira notícia; há 90 mil americanos e o New York Times tratou os voos de repatriação como notícia secundária; os espanhóis El País e El Mundo também foram discretos... Sabem porquê? Pelo critério da proximidade, essa lei que faz privilegiar uma notícia próxima em relação a uma longínqua. Para os ignorantes, esse critério fê-los pensar que o turista nacional é que é importante. Seria, se não houvesse o que há. Mas a magnitude dos acontecimentos egípcios é tal que os jornais sérios perceberam que é ela que porta em si a proximidade: ela pode mudar a vida do mundo, de nós todos. Por isso, nos países civilizados a irrelevância das férias encurtadas foi posta no seu lugar secundário. Mas não tenho ilusões, por cá, hoje (dia da grande manifestação cairota), vou passar o dia a ver microfones estendidos ao horror da viagem num barulhento C-130 chegado à Portela.

Ferreira Fernandes,DN 1/2/11

Comentário: a questão do essencial e do acessório é essencial em edição. Porquê? Porque a escrita e a publicação de um texto são isso mesmo: opção, escolha. E quando uma pessoa tem de optar entre uma opção e uma escolha, who you gonna call? Por isso se fala, tanto para livros como para a TV, em "critérios editoriais".

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Notas de Teoria de Edição

Notas finais:

Ana Carina Morais - 14
Ana Paula Limão Ferreira- 16
André Pereira - 17
Armando Alves - 17
Carla Vieira - 16
Carlos Miranda - 14
Cátia Ribeiro - 16
Andreia Gonçalves - 15
Helena Angelino - 16
João Cancela - 18
Isabel Marques - 14
Marian Pithon - 15

Obviamente, estou aberto a discuti-las.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Tinta nos Nervos: BD no Museu do Comendador


É a primeira vez que a banda desenhada portuguesa entra no Museu Colecção Berardo e quando o faz é com esta dimensão: quase 600 originais de 41 artistas modernos e contemporâneos de várias gerações, lado a lado na demonstração de uma pluralidade de estilos, capacidades criativas, experiências e vivências que é, de uma forma geral, mal conhecida do público.

Tinta nos Nervos é o nome da exposição, que será inaugurada hoje ao fim da tarde e fica aberta até 27 de Março. O título, pedido emprestado a Húmus, do escritor português Raul Brandão, é assim explicitado por Pedro Vieira de Moura, comissário da exposição: "As sensações que estes trabalhos provocam, as noções que eles fazem vibrar e questionar, a verve com que se impõem face a uma atitude mais consolidada - mas não por isso mais forte - sobre a banda desenhada, fazem-nos acreditar que a tinta que nos lançarão nos nervos nos fará ficar mais alertas, abrangentes e exigentes com esta arte, tão velha e já familiar quanto nova e ainda estranha."

A mostra quer dar a conhecer o "outro lado" do fenómeno de massas que tem o seu expoente nos personagens e aventuras conhecidos de todos, de Astérix a Tintin, de Batman a Calvin e os mil e um heróis que estão de várias formas presentes no nosso quotidiano. Por outras palavras, é uma exposição de autores, acrescenta Vieira de Moura, lembrando que a banda desenhada portuguesa, "em vez das escolas, e apesar de existir uma rede de colaborações, esforços conjuntos e até mesmo famílias criativas, é fortalecida por valores plenamente individuais".

Ficam assim estabelecidos o objecto e a finalidade desta exposição - apresentar ao público que habitualmente frequenta os museus e galerias de arte "os autores que empregam a banda desenhada como um meio de expressão mais pessoal, ou uma disciplina artística aberta a experimentações várias, informadas pelos discursos contemporâneos", escreve o comissário da exposição no catálogo.

Chegar até aqui nem sequer foi difícil. Em Janeiro de 2010, Pedro Vieira de Moura apresentou o projecto a Jean-François Chougnet, director do Museu Colecção Berardo. Foi bem acolhido. A ideia foi fazendo o seu caminho e a luz verde para avançar chegou em Setembro; seguiram-se os contactos com os autores - Pedro Vieira de Moura só não conhecia pessoalmente Victor Mesquita -, a selecção dos trabalhos e, finalmente, a sua organização no espaço de exposição.

À excepção de Rafael Bordalo Pinheiro e Carlos Botelho, "dois autores históricos, experimentais na sua época", os restantes 39 artistas expostos estão vivos e caracterizam-se por "procurar elevar a banda desenhada a uma linguagem adulta e inovadora artisticamente", diz Vieira de Moura. Há autores com uma carreira comercial relevante e bom acolhimento por parte da crítica - caso de José Carlos Fernandes, António Jorge Gonçalves, Nuno Saraiva, João Fazenda, Miguel Rocha ou Victor Mesquita. Outros abordam problemáticas mais fracturantes através de uma banda desenhada de registo convencional, como Ana Cortesão ou Pedro Zamith. Noutro quadrante, que não é consensualmente aceite como banda desenhada, mas que "emprega elementos passíveis de aproximação a uma leitura ampla da banda desenhada", estão artistas como Eduardo Batarda, Isabel Baraona ou Mauro Cerqueira. E há ainda os que levam mais longe o seu labor, traduzido em outros objectos: estão nessa categoria os bonecos moldados de Zamith, as animações de Filipe Abranches, Daniel Lima, João Fazenda e Cátia Serrão, os peluches de Alexandre Baudoin a partir dos desenhos de André Lemos ou os crachás de Jucifer, refere o comissário da exposição.

À lista de autores seleccionados poderiam juntar-se outros nomes. Pedro Vieira está ciente disso e defende-se dizendo que a sua escolha não foi ditada por um critério de exclusão mas, pelo contrário, procurando incluir autores cujo trabalho "é forte, válido e vincado". De uma coisa tem a certeza: "São todos merecedores de serem conhecidos por um público mais alargado."

Tinta nos Nervos - Banda desenhada portuguesa

Museu Colecção Berardo Praça do Império, Lisboa De 10 de Janeiro a 27 de Março Domingo a sexta - das 10h às 19h Sábado - das 10h às 22h. Entrada gratuita

sábado, 8 de janeiro de 2011

Editoras de livros apanhadas pelas redes

Foi publicado no Jornal de Notícias de ontem um texto sobre a presença de várias editoras nas redes sociais, ao qual cheguei via Blogtailors. Cá vai ele:

Editoras de livros apanhadas pelas redes

As editoras portuguesas já não dispensam as redes sociais, encaradas como um veículo privilegiado para um contacto mais próximo com os leitores. Da promoção de passatempos à divulgação das novidades, a Internet tornou-se um elo de que já poucas abdicam.
Para promover o mais recente romance de José Luís Peixoto, em Setembro do ano passado, a editora Quetzal promoveu um passatempo, na página do Facebook, que possibilitava a cinco leitores a oportunidade de assistirem ao pré-lançamento exclusivo de "Livro" numa gráfica. Para isso, deveriam não só partilhar um "booktrailer" (filme promocional relacionado com a obra em questão) como demonstrar conhecer a fundo a obra do autor de "Cemitério de pianos".

O exemplo é sintomático da importância crescente que as redes sociais assumem para a generalidade das editoras nacionais, independentemente da sua dimensão.
Entre as principais vantagens dessa aposta, destaca-se a oportunidade de perceber os gostos dos leitores, pemitindo, como sublinha Margarida Ferra, responsável de comunicação da Quetzal, "adequar a mensagem ao meio". Mas não só. Afinal, as redes sociais são "uma espécie de praça pública onde se encontram outras editoras, autores, jornalistas, meios de comunicação social e uma boa parte dos nossos leitores".

"Não é marketing"

Os dois maiores grupos editoriais há muito que despertaram para o fenómeno. Presente nos "obrigatórios" Facebook e Twitter (além de contas no YouTube e Second Life), a Porto Editora acredita que se distingue da restante oferta. "Abrangemos tantas áreas editoriais e contemplamos diferentes suportes (papel e digital) que, logo à partida, a diferenciação está estabelecida", sublinha Paulo Gonçalves, responsável de comunicação do grupo, que destaca ainda a tentativa permanente de surpreender os leitores, seja através dos passatempos ou da possibilidade de aceder aos primeiros capítulos dos livros ainda antes de chegarem ao mercado.

Na Leya, quase todas as editoras do grupo estão nas redes sociais, mas o mesmo acontece com a livraria online, a Mediabooks, que procura funcionar como uma comunidade, ao manter os seguidores informados sobre as novidades, passatempos e promoções.

Atenta há muito a esta nova realidade encontra-se a Deriva, que vê nas redes sociais (mas também no YouTube ou no blogue) uma forma acessível e directa de "dar a conhecer aos nossos leitores, amigos e público leitor em geral, os nossos autores, as propostas, os projectos e os livros que editamos", explica o editor António Luís Catarino.

Na Assírio & Alvim, é "a perspectiva de genuíno intercâmbio de ideias, informações, imagens e textos", de acordo com Vasco David, que dita a presença nas redes sociais. "Não encaramos como marketing", enfatiza.

Se as editoras canalizam grande parte dos esforços promocionais para a Internet, tal não significa um desinvestimento nos meios tradicionais, garantem. "O Facebook complementa esses canais, mas não os substitui", afirma a direcção de comunicação da Leya.

Por muito acentuada que seja a aposta nas redes sociais pela generalidade do meio editorial, nem todos se renderam por enquanto à sua força. As Publicações Europa-América são disso exemplo. Embora disponha de uma página oficial na Internet há anos, a editora fundada em 1945 por Francisco Lyon de Castro não dispõe ainda de qualquer conta nas redes sociais, embora tencione aderir ao Facebook em breve. O director editorial, Francisco Pedro Lyon de Castro, acredita mesmo que a importância das redes tem sido "sobrevalorizada. Continuamos a receber diariamente centenas de cartas, telefonemas e emails".

Sérgio Almeida
publicado a 2011-01-07 às 00:15
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=1750517

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011


Lançamento do livro José Saramago nas Suas Palavras

Dia 15 de Novembro decorreu o lançamento do livro José Saramago nas Suas Palavras, que teve lugar na Biblioteca Municipal Central - Palácio Galveias, local que o escritor tinha por costume frequentar quando ainda se encontrava em Portugal.

Tive conhecimento deste lançamento a partir de um e-mail que me enviaram e decidi ir, juntamente com a minha colega Helena Angelino, que também se mostrou interessada.

Chegámos ao local por volta das 18.10h. Não se podia dizer que estivesse muita gente, provavelmente por o autor já não se encontrar entre nós, tratando-se assim de um lançamento sem o escritor... Havia somente duas câmaras no local para fotografar o evento.

Como é habitual, na entrada da sala onde se deu o lançamento, estava montada uma banca onde se vendiam alguns exemplares.

Com um ritmo lento, as pessoas entraram na sala e enquanto se sentavam, falavam e cumprimentavam-se, ao passo que eu e a Helena não conhecíamos ninguém como era de esperar.

Em frente do público reunido, estava uma mesa de onde se fez a apresentação do livro. Nela, encontravam-se Zeferino Coelho, editor da Caminho, a jornalista Clara Ferreira Alves, Fernando Gómez Aguilera, que seleccionou os excertos que compõem a obra e os organizou e por fim, Pedro Lamares, o responsável pela leitura de algumas passagens.

O discurso começou com palavras de agradecimento de Zeferino Coelho por Saramago ter depositado a sua confiança na editora Caminho. Carla Ferreira Alves lamentou o estranho que é o escritor não se encontrar entre nós e lembrou que faria 88 anos dia 16 de Novembro. Explicou no que é que consiste a obra e descreveu-a como uma espécie de antologia de frases, palavras e máximas ditas por Saramago ao longo da vida, sobretudo em entrevistas a jornais e revistas. CFA considera que a voz do escritor esclareceu o mundo, Portugal, as pessoas... Salientou que José Saramago era alguém que dizia o que pensava sem rodeios, com clareza e lucidez. Evidenciou a importância de dizer “não”: “A capacidade de ser livre (...) a liberdade moral, intelectual, íntima e colectiva, transmite-se na capacidade de dizer não”.

Seguiu-se Fernando Gómez de Aguilera que destacou a importância do conteúdo da escrita do autor. Utilizou alguns ditos de Saramago para exemplificar, ao dizer que dentro das palavras está o ser humano e que as palavras sem consciência não têm conteúdo. FGA lembra com isto, que Saramago respondia sempre com muita consciência. Referiu, também, um prólogo que o escritor escrevera sobre Quixote, no qual expôs uma teoria muito interessante ao dizer que existem quatro portas para o conhecimento, sendo a primeira destas a curiosidade, a segunda a leitura e o saber, a terceira a imaginação e a quarta a liberdade. Também nos lembrou que as suas personagens estão sempre a caminhar... Podemos constatar isso no Memorial do Convento, na Viagem do Elefante, em Caim... caminham sempre em direcção à liberdade. Esse caminho começa por saber dizer “Não”.

Referiu-se muito o seu humanismo crítico e a prioridade que dava ao ser humano, sendo esta obra exemplo disso mesmo.

Por fim, falou Pedro Lamares, destacado para ler algumas passagens do livro, que me pareceram bem escolhidas porque me deram vontade de o ler, mas claro que o que citou não pôde demonstrar toda a riqueza da obra como ele mesmo o disse. Leu uma passagem que explicava a origem do nome Saramago e outras que apontei e que considerei bonitas e verdadeiras. São algumas delas: “A felicidade é uma invenção para tornar a vida suportável”; “É aterrador o uso que se pode fazer de uma palavra”; “ A obra feita é sempre maior do que quem a fez”; “A nossa única defesa contra a morte é o amor”, entre outras.

No fim da apresentação ouvimos algumas palavras de Pilar del Río que se levantou do público e se dirigiu à mesa. Agradeceu a Pedro a selecção escolhida e deu-nos a conhecer a opinião do marido em relação à crise que assola Portugal. Saramago terá dito que a crise que se diz económica é antes uma crise de moral.

Este lançamento foi muito centrado no autor, tal como o livro o é. Como foi dito na apresentação, embora seja uma obra feita de entrevistas, lembra um ensaio que diz o que devemos ser.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Relatório de um lançamento


No dia quinze de Novembro, pelas seis horas da tarde, no Palácio Galveias, deu-se o lançamento do livro intitulado José Saramago nas Suas Palavras, editado pela Editorial Caminho e coordenado por Fernando Gómez Aguilera, curador da Fundação José Saramago. No hall estavam reunidas pouco mais de cem pessoas, dois fotógrafos e um operador de câmara. A um canto havia uma banca onde o livro estava à venda por vinte e dois euros.

Após todos se sentarem na sala adjacente, Zeferino Coelho, o editor de José Saramago, falou um pouco sobre o escritor e passou rapidamente a palavra a Clara Ferreira Alves. A jornalista disse algumas palavras sobre Saramago - que, se fosse vivo, faria oitenta e oito anos no dia seguinte - contou como conhecera o escritor, disse que, para o Nobel português, o mais importante na vida era a capacidade de ser livre e que o tinha ouvido afirmar que "se calhar, a literatura não tem de servir para nada". Clara Ferreira Alves disse que a dignidade e a capacidade de dizer 'não' eram cruciais para Saramago. A jornalista acrescentiu que, para Saramago, o que nos distinguia era a possibilidade de dizermos o que pensávamos e que o escritor receava perder a língua portuguesa ao mudar-se para Lanzarote.
O interveniente seguinte foi Fernando Gómez Aguilera - editor de Saramago em Espanha. Aguilera falou um pouco do escritor e contou que era na Biblioteca Municipal Central — Palácio Galveias que Saramago mais gostava de estar para ler. Contou que, para Saramago, havia quatro portas para o conhecimento: a curiosidade, a leitura, a imaginação e a liberdade. Revelou que uma das metáforas da sua obra era a viagem. O editor espanhol ouviu Saramago dizer várias vezes para as pessoas não se resignarem, para se indignarem, que o ser humano é que era a prioridade e que a maior de todas as revoluções era a da bondade.
O actor Pedro Lamares leu algumas passagens do livro, referindo que ‘Saramago’ era a alcunha da família - e que o pai de José não gostava - e que o verdadeiro apelido do autor era Sousa. Leu passagens onde o prémio Nobel afirmava que “o único lugar que se habita de facto é a memória”; que “a ética é a mulher mais bonita do universo” e que “a única defesa da humanidade contra a morte era o amor”.

Por último, Pilar Del Río disse algumas palavras sobre Saramago, sobre os seus últimos dias e sobre as últimas reuniões com os amigos na casa de Lanzarote. Com voz trémula, Pilar recordou uma das últimas conversas entre amigos em que Saramago afirmara que a presente crise não é económica, mas sim moral. Após uma salva de palmas dos presentes, o lançamento chegou ao fim.