quarta-feira, 5 de janeiro de 2011


Lançamento do livro José Saramago nas Suas Palavras

Dia 15 de Novembro decorreu o lançamento do livro José Saramago nas Suas Palavras, que teve lugar na Biblioteca Municipal Central - Palácio Galveias, local que o escritor tinha por costume frequentar quando ainda se encontrava em Portugal.

Tive conhecimento deste lançamento a partir de um e-mail que me enviaram e decidi ir, juntamente com a minha colega Helena Angelino, que também se mostrou interessada.

Chegámos ao local por volta das 18.10h. Não se podia dizer que estivesse muita gente, provavelmente por o autor já não se encontrar entre nós, tratando-se assim de um lançamento sem o escritor... Havia somente duas câmaras no local para fotografar o evento.

Como é habitual, na entrada da sala onde se deu o lançamento, estava montada uma banca onde se vendiam alguns exemplares.

Com um ritmo lento, as pessoas entraram na sala e enquanto se sentavam, falavam e cumprimentavam-se, ao passo que eu e a Helena não conhecíamos ninguém como era de esperar.

Em frente do público reunido, estava uma mesa de onde se fez a apresentação do livro. Nela, encontravam-se Zeferino Coelho, editor da Caminho, a jornalista Clara Ferreira Alves, Fernando Gómez Aguilera, que seleccionou os excertos que compõem a obra e os organizou e por fim, Pedro Lamares, o responsável pela leitura de algumas passagens.

O discurso começou com palavras de agradecimento de Zeferino Coelho por Saramago ter depositado a sua confiança na editora Caminho. Carla Ferreira Alves lamentou o estranho que é o escritor não se encontrar entre nós e lembrou que faria 88 anos dia 16 de Novembro. Explicou no que é que consiste a obra e descreveu-a como uma espécie de antologia de frases, palavras e máximas ditas por Saramago ao longo da vida, sobretudo em entrevistas a jornais e revistas. CFA considera que a voz do escritor esclareceu o mundo, Portugal, as pessoas... Salientou que José Saramago era alguém que dizia o que pensava sem rodeios, com clareza e lucidez. Evidenciou a importância de dizer “não”: “A capacidade de ser livre (...) a liberdade moral, intelectual, íntima e colectiva, transmite-se na capacidade de dizer não”.

Seguiu-se Fernando Gómez de Aguilera que destacou a importância do conteúdo da escrita do autor. Utilizou alguns ditos de Saramago para exemplificar, ao dizer que dentro das palavras está o ser humano e que as palavras sem consciência não têm conteúdo. FGA lembra com isto, que Saramago respondia sempre com muita consciência. Referiu, também, um prólogo que o escritor escrevera sobre Quixote, no qual expôs uma teoria muito interessante ao dizer que existem quatro portas para o conhecimento, sendo a primeira destas a curiosidade, a segunda a leitura e o saber, a terceira a imaginação e a quarta a liberdade. Também nos lembrou que as suas personagens estão sempre a caminhar... Podemos constatar isso no Memorial do Convento, na Viagem do Elefante, em Caim... caminham sempre em direcção à liberdade. Esse caminho começa por saber dizer “Não”.

Referiu-se muito o seu humanismo crítico e a prioridade que dava ao ser humano, sendo esta obra exemplo disso mesmo.

Por fim, falou Pedro Lamares, destacado para ler algumas passagens do livro, que me pareceram bem escolhidas porque me deram vontade de o ler, mas claro que o que citou não pôde demonstrar toda a riqueza da obra como ele mesmo o disse. Leu uma passagem que explicava a origem do nome Saramago e outras que apontei e que considerei bonitas e verdadeiras. São algumas delas: “A felicidade é uma invenção para tornar a vida suportável”; “É aterrador o uso que se pode fazer de uma palavra”; “ A obra feita é sempre maior do que quem a fez”; “A nossa única defesa contra a morte é o amor”, entre outras.

No fim da apresentação ouvimos algumas palavras de Pilar del Río que se levantou do público e se dirigiu à mesa. Agradeceu a Pedro a selecção escolhida e deu-nos a conhecer a opinião do marido em relação à crise que assola Portugal. Saramago terá dito que a crise que se diz económica é antes uma crise de moral.

Este lançamento foi muito centrado no autor, tal como o livro o é. Como foi dito na apresentação, embora seja uma obra feita de entrevistas, lembra um ensaio que diz o que devemos ser.

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